terça-feira, maio 24, 2005

PRESS RELEASE - PARA QUANDO O NOSSO EXAME DE ACESSO À ESPECIALIDADE?!

A Direcção da Associação Nacional de Estudantes de Medicina serve-se do presente comunicado de imprensa para alertar a população para alguns problemas que a formação médica está a atravessar em Portugal e que, obviamente se irão repercutir na qualidade dos serviços médicos prestados dentro de poucos anos.

Enquanto presidente da ANEM, sempre zelei para que a ANEM se mantivesse informada e atenta, respondendo e colaborando com o maior número de parceiros possíveis. Com o anterior governo tivemos a oportunidade de reunir e trocar ideias com a Sra. Ministra da Ciência e Ensino Superior e com o Sr. Ministro da Saúde. A nossa intervenção nestes órgãos foi sempre sustentada por documentos e posições aprovadas em Assembleia-geral, facto que nos permite apresentar e defender a vontade da maioria dos estudantes de medicina. Era pois nosso objectivo manter este espírito de diálogo e cooperação com as novas entidades governativas.

Com a mudança de governo, diversos assuntos, cuja resolução era urgente, acabaram por ficar pendentes. Dos assuntos relacionados com a qualidade da formação médica, tomamos como mais urgentes a marcação do exame de especialidade para os jovens médicos e para os actuais finalistas. Outro ponto premente é a uniformização dos 6ºs anos das escolas médicas e o adiamento do fim do ano de formação generalista pós-graduada, vulgo, ano comum.

No que toca à marcação do exame de acesso à especialidade, que decidirá o futuro de centenas de médicos recém-formados, temos trabalhado em conjunto com o Conselho Nacional do Médico Interno (CNMI) e com a Associação Nacional do Médico Interno (ANMI). Conseguimos, inclusive, formular uma proposta de consenso entre estas estruturas que são as legítimas representantes de todos os envolvidos neste processo de transição.

A ANEM fez chegar ao novo executivo a sua posição e preocupação sobre estes assuntos e a inerente necessidade de assistir à sua resolução. Porque entendo que o diálogo em ambiente de gabinete é muito mais profícuo do que qualquer manifestação ou tomada de posição mais extrema, demos ao novo Ministério da Saúde o tempo que achamos razoável para resolver este assunto e pedi também uma audiência no Ministério para apresentarmos os assuntos que preocupam os jovens que serão os futuros médicos do nosso país. Infelizmente a resposta que tivemos foi um profundo silêncio.

De acordo com o novo diploma do Internato Médico, que desejamos ver alterado o mais brevemente possível, os actuais médicos que frequentam o ano comum poderão fazer o seu exame de acesso à especialidade no mês de Outubro e os alunos do 6º ano de Medicina em Dezembro do corrente ano. Além disso, nada está definido quanto aos mapas de vagas a ocupar nem às regras de acesso aos concursos, nomeadamente as restrições à participação e repetição do exame.

Pois bem, os prazos razoáveis para a marcação dos exames estão mais que extrapolados. Para quem não tem noção, posso desde já informar que este exame é preparado com cerca de um ano de antecedência. Como é que os alunos conseguem ter concentração para estudar para um exame que decidirá o seu futuro se não sabem sequer quando é que ele se vai realizar!? Por todos estes motivos a ANEM entende que a data destes exames deverá ser alterada, propondo que os internos do ano comum realizem o exame em Dezembro do corrente ano e os alunos do 6º ano em Junho do próximo ano.


O problema da uniformização dos 6º anos e o apelo à manutenção do ano comum assume também extrema importância. O novo diploma prevê o fim do ano comum para os alunos do actual 5º ano e prevê também a realização do exame de acesso à especialidade, que será já realizado com conteúdos programáticos diferentes do actual, imediatamente após o término da licenciatura.

Os 6º anos das escolas médicas não estão ainda totalmente uniformizados, problema que vai levar a uma enorme discrepância em termos de preparação e tempo de estudos entre as diversas escolas médicas. Por outro lado, a ANEM entende que os 6º anos não são ainda suficientemente profissionalizantes. Por isso, e mais uma vez tendo em vista somente a qualidade da formação médica em Portugal, apelamos a que o ano de formação generalista seja mantido até que uma comissão externa de avaliação entenda que os cursos de medicina são suficientemente profissionalizantes e, por isso, se pode prescindir da referida formação generalista.

Os alunos sentem que estão a ser ignorados e que os seus problemas estão a ser relegados para segundo plano. Enquanto presidente da ANEM, depois de fazer chegar a nossa posição ao novo Ministério da Saúde e depois de ver os prazos que entendia como razoáveis para a resolução deste assunto extrapolados, cabe-me agora alertar a população em geral para este problema, pois, em última instância, será ela a arcar com as consequências de uma formação médica de qualidade inferior à desejável. Se depois desta manifestação pública do nosso descontentamento, o problema não for resolvido iremos estudar novas formas de protesto e de sensibilização da opinião pública.

Compreendo que o novo executivo herdou um problema que não criou, todavia, os estudantes de medicina não têm culpa disso e merecem ver o seu futuro definido.


Agradeço desde já a atenção dispensada e apelo-lhe para que este comunicado de imprensa seja amplamente divulgado no seu meio de comunicação.
Se necessitar de algum esclarecimento adicional estou disponível através dos seguintes contactos: presidente@anem.pt, fax-223390546.

Sem mais de momento, subscrevo-me, com as mais cordiais saudações.
Pela Direcção da ANEM

Pedro Lopes
(Presidente)