sexta-feira, julho 08, 2005

Alunos fazem-se ouvir

Esta é uma notícia retirada da versão online do jornal médico "Tempo Medicina" que será publicado no dia 11 de Julho.

www.tempomedicina.com

Indecisão marca atitude do Ministério

Internos e estudantes desiludidos

As estruturas representativas dos internos e a associações dos estudantes de Medicina saíram muito descontentes da reunião com os representantes do Ministério da Saúde, na semana passada. Os responsáveis associativos dizem ser insustentável a falta de decisão da tutela, em relação aos próximos exames. O Conselho Nacional do Médico Interno (CNMI), a Associação Nacional do Médico Interno (ANMI) e a Associação Nacional dos Estudantes de Medicina (ANEM) foram recebidos no Ministério da Saúde (MS) no passado dia 6, para discutir o futuro do processo de transição do internato médico. Na reunião estiveram presentes dirigentes e representantes destas estruturas – o Dr. Rui Guimarães, Presidente do CNMI, o Dr. António José Francisco e a Dr.ª Anabela Serranito, membros da ANMI, e Pedro Lopes, responsável máximo da ANEM – e, da parte da tutela, o Dr. Rui Gonçalves, Secretário-Geral do MS, e o Dr. António Navegas, Subdirector-Geral do MS e jurista. Mas, a julgar pelo comunicado disponível no site do CNMI datado do mesmo dia, as três entidades representantes dos jovens e futuros médicos consideram que o encontro ficou muito aquém do esperado: «O Sr. Secretário-Geral frisou, logo no início, que seria uma reunião de auscultação e não de decisão final, contrariando desde logo as legítimas expectativas entretanto criadas», pode ler-se no referido texto. Os internos e os estudantes reconhecem a boa vontade demonstrada pelos dirigentes do MS, mas consideram que tal não é suficiente, numa altura em que os exames de acesso ao internato se aproximam. «O CNMI, a ANMI e a ANEM manifestam o seu desagrado pela forma inábil como o Ministério da Saúde tem gerido a questão e, sobretudo, pela falta de tomada de posição», diz o comunicado. Neste documento, as três entidades lamentam ainda a «falta de informação que continua a manter-se sobre as condições de acesso aos próximos concursos do internato médico». Na verdade, a única certeza que os jovens médicos e os estudantes trouxeram da reunião com os responsáveis do MS foi a de que a tutela decidiu adiar o concurso previsto para Outubro. A prova deverá agora realizar-se em Dezembro, «em princípio» durante a primeira quinzena desse mês, mas para os internos muitas questões continuam por responder. «Não foi possível obter uma resposta concreta em relação à abertura ou não deste concurso a colegas que não do ano comum», lê-se no comunicado, onde se assinala ainda a falta de decisão da tutela no que respeita ao exame seguinte, destinado aos finalistas de Medicina, e previsto também para o mês de Dezembro. Por isso, para o Dr. Rui Guimarães, o adiamento do exame é uma medida «avulsa e descontextualizada», que perde a sua «legitimidade» e o «apoio generalizado conseguido», por não ser acompanhada das restantes medidas propostas pelo CNMI, em Março deste ano. «Esta decisão apenas serve para aumentar a instabilidade entre os internos, pois, apesar de estes terem contratos que, à partida, lhes permitem manter-se nos serviços até Dezembro, o certo é que continuam sem saber ao certo quando têm exame e o que lhes acontece depois disso», acrescentou o Presidente do CNMI, que se diz «desiludido» com a atitude da tutela. Na verdade, as três estruturas receiam que esta «indefinição» venha a aumentar o «clima de ansiedade e instabilidade» que já se faz sentir entre os mais de dois mil jovens envolvidos neste processo.

Carta aberta

Particularmente pouco esperançada em relação às decisões da tutela parece estar a ANEM, que, além de subscrever o referido comunicado, publicou no seu blog, uma «Carta aberta a todos os estudantes de Medicina e jovens médicos». Nesta missiva, assinada pelo Presidente da ANEM, explica-se, uma vez mais, que as expectativas dos representantes de internos e estudantes envolvidos na reunião com o MS saíram «completamente goradas», mas, desta vez, o tom crítico é mais acentuado: «Mudam-se os responsáveis pelas decisões e mantém-se a inércia na hora de decidir. (…) O que a ANEM entende é que os alunos há muito que estão a ser prejudicados ao depararem-se com tamanha indefinição. Este é um problema que cresce exponencialmente com o passar do tempo», pode ler-se. Perante a impossibilidade de obter respostas concretas da parte do MS após várias reuniões e contactos, o dirigente estudantil pede desculpa aos seus colegas: «A ANEM serve-se do presente comunicado para lamentar a atitude, a nosso ver irresponsável, que o actual MS tem tido para com os jovens médicos e estudantes de Medicina. (…) Apresentamos as nossas mais sinceras desculpas aos colegas pelo impasse que estão a viver, mas, como certamente percebem, a resolução deste problema transcende todo o nosso esforço e empenho», confessa Pedro Lopes. Face a esta situação e «esgotada a via do diálogo», o Presidente da ANEM apela à colaboração de todos, na única forma de acção que parece poder trazer alguns resultados – a pressão. Pedro Lopes sugere que todos aqueles que se sintam «indignados» se dirijam ao MS, e coloca mesmo na carta os vários contactos do MS, para que os colegas não hesitem em tentar mostrar à tutela «a gravidade da situação que está a criar».

Maria F. Teixeira

...CAIXA...

ANMI ameaça com formas de luta «diferentes» Tal como as suas congéneres, depois da reunião com a tutela, a Associação Nacional do Médico Interno (ANMI) ficou descontente e desmoralizada. Na verdade, em declarações ao «TM», o Dr. Carlos Cortes, Presidente da ANMI, não escondeu o desalento: «Temos optado sempre pela via da conversação, mas a ANMI entende que, neste momento, a via do diálogo pode não ser suficiente. A capacidade de decisão do Ministério da Saúde tem-se revelado demasiado diminuta», disse. Por isso, esta estrutura representante dos internos não coloca de lado a hipótese de utilizar outras formas de contestação. «Achamos que a via do diálogo ainda não está totalmente esgotada, mas, face à pressão dos nossos associados e perante a indecisão da tutela, ponderamos desenvolver atitudes diferentes das até agora seguidas, para com o Ministério», avisou o Dr. Carlos Cortes, que não quis especificar a natureza das medidas que a ANMI poderá vir a tomar, mas prometeu dar mais pormenores nos próximos dias. É que, para o responsável da ANMI, o tempo urge, e a situação dos internos exige medidas concretas e imediatas: «Não podemos estar a adiar mais o problema, nem pedir às pessoas que esperem mais uns meses para saber como resolver as suas vidas», salientou o Dr. Carlos Cortes.

TM 1.º CADERNO de 2005.07.11
0511021C18105MF28D

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